ALCATIFA AZUL

Lisboa, 11 de Março de 2025

Não deixa de ser irônico que um projeto sobre viagens no tempo já esteja a ser desenvolvido há tanto que eu nem lembre mais dos seus primeiros momentos (mas bem, eu também não lembro do que comi hoje ao pequeno almoço). Mas lembro sim com grande clareza de muitos outros momentos em que posso ancorar o início deste Hotel Paradoxo: uma biblioteca com o chão coberto de alcatifa azul na década de 70 em Porto Alegre, sul do Brasil; uma temporada no Teatro Maria Matos em Lisboa há 15 anos, quando pela primeira vez eu imaginei os efeitos duma hipotética Bolha de Alcubierre na minha história (e com alguma boa vontade pode-se imaginar que desde então eu estou sempre a repetir as mesmas histórias não por falta de criatividade, mas por estar preso num loop espaço-temporal); e o encontro avassalador com aquela que é hoje a minha mais completa tradução.

Hotel Paradoxo é sobre o tempo, e sobre as possibilidades de permanência num universo que está continuamente em criação e destruição. O físico italiano Carlo Rovelli escreveu: “A mecânica quântica e as experiências com partículas ensinaram-nos que o mundo é um enxame contínuo e inquieto de coisas; um contínuo aparecimento e desaparecimento de entidades efémeras. Um conjunto de vibrações, onde tudo o que existe nunca é estável e não passa de um salto de uma interação para outra. Um mundo de acontecimentos, não de coisas”.

Desculpem: estou a me adiantar (e a me perder). Na verdade, esta mensagem é só para dizer que nesta Sexta dia 14, às 18h30, estarei na Biblioteca de Alcântara - José Dias Coelho para partilhar o processo de escrita do Hotel Paradoxo, um monólogo sobre viagens no tempo e no espaço. Que, sem conseguir ver o futuro, já sei que vou ficar muito feliz se alguns de vocês estiverem lá comigo, e ao mesmo tempo estarei mais nervoso, e arrependido de ter enviado este email e, mais ainda, ter começado este projeto todo.

A culpa é da biblioteca com alcatifa azul.

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