CÉREBROS! CÉREBROS! CÉREBROS!

Lisboa, 07 de Maio de 2025

Desde que encontrei Sofia Dias & Vítor Roriz na década passada que eles vão ressurgindo na minha vida, sem aviso, como uma aparição de outras dimensões (como uma baleia, ou um UFO, ou a virgem santíssima num arbusto em chamas). A cada vez oferecem-me um descortinar de novas possibilidades e novos desafios para pensar a criação e a cena.

Agora vieram com o convite para acompanhar um grupo de artistas vindos de lugares muito distintos, cada um a criar um trabalho autoral para ser apresentado nos espaços do MAAT no contexto do Festival Cumplicidades (digo "acompanhar", mas o que faço mesmo é correr atrás destes fenómenos criativos, a resfolegar e deixar cair coisas dos bolsos, assistindo de queixo caído suas questões, desafios, soluções e passes de mágica). E agora, nos últimos e intensos dias antes de mostrar esses trabalhos ao público, fico com vertigens ao perceber a distância percorrida nestas 3 semanas.

Não consigo deixar de ser parcial nos processos em que me envolvo. Mas acredito mesmo que este é um grupo excepcional, que merece ser seguido por quem se interessa pela dança, teatro, performance, artes visuais, hipnose, esgrima e neurociência. Espalhados pelas exposições de Jeff Wall, Rui Moreira e Ana Léon, há trabalhos tão radicalmente diferentes como aqueles que os criaram. A luminosa Bibi Dória examina a matéria do cinema num gesto ao mesmo tempo simples e avassalador. Bruno Senune criou um aparato matematicamente exato para aprisionar/libertar o momento da queda, enquanto no instantâneo de Daniel Matos a queda já se deu, mas continua a se desdobrar no tempo e no espaço como que num pesadelo (molhado). Elizabete Francisca assombra o mundo dos vivos com um desvelar daquilo que está do outro lado do véu, numa espécie de possessão consensual. O jardim imaginário de Leonor Mendes é uma construção perfeita, capaz de curar insónias e trazer a pessoa amada por 3 noites. Já quem visitar o jardim de Luís Guerra é convidado a um diálogo sensível e irrepetível entre o corpo de um intérprete e a palavra escrita/falada. Finalmente, Magnum Soares criou um objeto com tal força gravitacional que consegue arrastar-nos irremediavelmente para o interior do seu cérebro.

A referência ao cérebro não é acidental, porque além de tudo tivemos o privilégio de interagir com 5 investigadores da Fundação Champalimaud, que implodiram as nossas sinapses com conceitos, imagens e experimentos que mal consigo abarcar sem começar a sentir enxaquecas, e ter de deitar num quarto escuro com uma couve-flor fresca na cabeça.

As apresentações serão neste Sábado e Domingo, dias 10 e 11, às 19h. E nunca mais irão se repetir, nunca mais. Eu, se fosse tu, não perdia.

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