ADORMECER. VIAJAR. MORRER.
Lisboa, 22 de Novembro de 2019
Estreia daqui a umas horas O lugar do canto está vazio, o feliz encontro entre a Companhia Maior e os coreógrafos-bailarinos Sofia Dias & Vítor Roriz. É um espetáculo sobre o sono e a vigília, ou talvez sobre aquela zona estranha e sedutora que se encontra estes dois estados. Na folha de sala há uma citação de Jonathan Crary que diz: “Uma das muitas razões por que há muito as culturas humanas associam o sono à morte é cada um deles, sono e morte, demonstrar a continuidade do mundo na nossa ausência. Porém, a única ausência temporária de quem dorme contém sempre uma ligação ao futuro, a uma possibilidade de renovação, logo de liberdade”. E como é bonito ver os artistas da Companhia Maior, que já acumulam tanto tempo de serviço neste planeta, ainda a olhar para o futuro e a renovação.
E estreou há algumas horas Aldebarã, o espetáculo infanto-juvenil em que o encenador Marco Paiva está a comandar uma tripulação de heróis que combinam línguas e habilidades muito distintas numa missão épica: salvar a humanidade inteira da extinção, apenas. Aqui também podemos pensar em futuro e renovação, é um espetáculo que fala sobre outras formas de se relacionar com o outro e com as próprias nossas singularidades. Ou como disse Oliver Sacks: “Falamos não apenas para dizer às outras pessoas o que pensamos, mas para dizer a nós mesmos o que pensamos. A fala é uma parte do pensamento”.
E daqui a duas semanas, é a vez de Morrer no Teatro finalmente estrear em Lisboa (no início do ano já estivemos no lindo Teatro Baltazar Dias, na Ilha da Madeira). Este é um projeto que começou há quatro ano: antes de um golpe derrubar a presidenta eleita do Brasil, antes do Trump e do Bolsonaro, antes do encerramento do Teatro Maria Matos e do Teatro da Cornucópia em Lisboa, antes da morte de José Mário Branco. É um espetáculo em que se fala muito em morte, claro, mas também em comida, sexo e William Shakespeare. E que vai derrubar o TBA a cada noite (mas prometemos reconstruir direitinho para a noite seguinte).