AINDA HÁ VAGAS

Lisboa, 27 de Novembro de 2025

Está a chegar o momento tão esperado, desejado, fantasiado. O momento de descolar finalmente os nossos pés do chão e entregarmo-nos ao vôo, à ascensão, à chama. A partida rumo ao Hotel Paradoxo.

Um hotel que no momento que se faz check-in já está a se fazer o checkout. Corredores com portas lado a lado a lado a lado que vão se encontrar no infinito, café da manhã estilo continental servido à beira da piscina. Pode-se ficar na suite Stanley Kubrick, um quarto com um chão iluminado e falsos móveis franceses do século XVII, um monólito negro diante da cama. Quem passar uma noite neste quarto acordará muitos anos mais jovem. É por isso que se chama Hotel Paradoxo. Tem os melhores preços da galáxia, Stephen Hawking a atender na receção, James Joyce meio cego a perambular pelos corredores, a dizer para quem quiser escutar, “a história é um pesadelo do qual eu estou a tentar acordar”, e Caetano Veloso a cantar em dueto com António Variações no bar panorâmico com vista para o horizonte de eventos de um buraco negro que irá nos engolir a todos antes mesmo do happy hour.

Hotel Paradoxo é também um gerador de campo espaço-temporal alimentado por memórias. Quanto mais gastas e imprecisas, melhor. Porque viajar no tempo é como viajar nas nossas próprias lembranças, um processo que, bem sabemos, é altamente impreciso. Não existe um tempo objetivo, fixo e unânime. Existem tempos paralelos, tantos quantos pessoas no mundo. Segundo Chanda Prescod-Weinstein, o tempo é uma experiência pessoal e intransferível no interior de um sistema que molda tudo que existe (como o patriarcado, o racismo e o capitalismo, por exemplo).  O tempo é um experimento hipotético (como o Gato de Schrödinger ou a Bolha de Alcubierre) criado para explicar o funcionamento de uma realidade que mal e mal percebemos.

Hotel Paradoxo reúne um número improvável de possibilidades passadas e futuras debaixo de um mesmo teto.

Hotel Paradoxo está a cair lentamente em direção à entropia final, mas ainda há vagas.